Sociedade surda

Após as festas de fim de ano, em que a ”música” fica no volume máximo, pessoas gritam pra falar com quem está a seu lado, e começa a dor de cabeça de passar horas e horas ouvindo tudo aquilo, tudo o que queremos é silencio. O problema vem, quando no dia seguinte você tem que ir trabalhar ou ir até tal lugar, e pega o carro ou ônibus, ou mesmo quem fica em casa, e todo aquele barulho continua, agora como motores, buzinas, música alta de vizinhos, crianças gritando na rua, e sua cabeça cheia fica a ponto de estourar.

Todos esses sons altos podem prejudicar muito a saúde das pessoas, causando desde estresse até perda de audição, segundo estudos na área. Ainda assim, muitos continuam a produzir barulhos sem se importar com as consequências para si mesmo, ou para os outros, já que isso não é como se alguém estivesse prejudicando apenas a si mesmo, mas atrapalhando e podendo causar danos às pessoas que são expostas involuntariamente.

Se concentrar enquanto alguém está falando próximo a você, é para muitos uma tarefa extremamente difícil, mas, acredito que falo por todos, que fazer isso com barulhos de televisão, motores, equipamentos eletrodomésticos, músicas, etc, é impossível. O rendimento de trabalhadores e estudantes, por exemplo, cai quando estão em um ambiente com alto nível de ruídos.

Porém esta geração começa a se acostumar e a não se importar mais com todos os barulhos que nos rodeiam. Segundo a pesquisa do Dr. Alain Muzet, do Centro de Estudos Bioclimáticos do CNRS (França), as crianças resistem mais a ruídos do que adultos ou idosos. Com base nisso, é possível estabelecer uma relação com os altos sons que se multiplicaram nos últimos anos. Elas já nasceram envoltas em barulhos.

Podemos ver, então, que os sons altos nos acompanham diariamente e podem causar problemas de estresse, audição, concentração, entre outros, e mesmo assim pessoas continuam a produzi-los. Acostumaram-se a eles, e suas crianças são o produto de uma sociedade barulhenta, aguentando mais, porém sujeita aos mesmos efeitos nocivos. Alguns buscam a solução em fones de ouvido, onde, mesmo que sejam sujeitos a esses efeitos, podem ao menos escolher o que querem ouvir. Para nos livrarmos disso, teríamos que refazer toda a organização urbana e rever hábitos sociais, então, infelizmente, continuaremos surdos por muito mais tempo.

Mas vamos falar de amor…

Desculpe-me ter que dizer isso, mas, meninas, seu príncipe encantado não virá. Nunca.  Se você ainda acredita que sim, pare de ler ou aceite de uma vez que o mundo não é um livro da Stephenie Meyer e que você é uma solteirona velha que sabe menos sobre amor do que uma menina de 14 anos.

As pessoas tem o costume de ver beleza e fofura em todos os filmes, livros, séries que assistem. Isso chegou ao ponto de comprarem “50 tons de cinza”, um livro que é puramente sexo, sem nenhum romance, nem mesmo uma história sólida e consistente, e dizer que achou o livro bonitinho. Elas postam fotos no Instagram (nova modinha da galera “pop”) junto ao livro como se estivessem segurando Shakespeare! Me irrita profundamente até um Kama Sutra disfarçado ser tido como um livro romântico.

O problema é que essa geração foi criada sobre fábulas de cavaleiros encantados, montados em cavalos magníficos, que vão salvar princesas de sua prisão horrível. E essas crianças que foram alimentadas com contos de fadas, tentam passar isso para a vida real, transformando suas vidas em uma espera incansável só para que seus príncipes venham salvá-las. Transformando qualquer um em bruxas malignas ou dragões terríveis, e qualquer romance em seu “felizes para sempre”.

A indústria cinematográfica, que quer lucrar, passa a produzir filmes com esse estilo. Como resultado, temos uma enxurrada de filmes pseudo-românticos com a mesma estrutura. As comédias românticas são um exemplo clássico disso, onde você pode distinguir os personagens básicos de contos de fadas, como vilão, mocinho e mocinha, de preferência apaixonados, e também ver o mesmo roteiro básico na maioria dos filmes. Tem gente que até confunde um e outro, de tão parecidos que são! Aí, essa geração que consumiu contos de fadas na infância e comédias românticas um pouco mais tarde, deixa-se levar e procura essas mesmas coisas no mundo real.

Só que a partir daí, ela deixa de ver tudo que prova que não existe “felizes para sempre”, como divórcios e brigas, e fica extremamente depressiva com o fim de um relacionamento. Se entope de remédios e outras drogas porque não consegue mais esperar por alguém que nem sabe quem é ou se realmente virá. As histórias nunca contam se príncipes deixaram as princesas apodrecerem no castelo, e isso é meio perturbante. Procurar e ver amor perfeito em toda parte é um escapismo para fugir desse medo, mas também uma fuga da realidade.

E é por isso, em parte, que vemos pessoas se iludindo cada vez mais falando de amor com as outras, não importando se existem coisas mais importantes no que pensar. Em todo lugar podemos ver pessoas desesperadas por encontrar esse sentimento, essa pessoa inexistente, e, para afastar o medo de não ser real, torna a realidade imaginária. O amor virou moda, e quem não segue a moda, é excluído do grupinho.

Hoje a noite é bela?

Ah natal! Uma época linda, onde a paz, amor, felicidade, mostram-se mais presentes do que nunca em nossas vida. Você realmente acha isso? Não, porque o natal é a época dos presentes desesperados, comprados de última hora, que custam “apenas” 50% a mais que em qualquer dia do ano. É a época de felicidade, sim, para lojistas e ladrões (não quer dizer o mesmo?), se aproveitando de uma tradição de pessoas estúpidas o suficiente para conseguir ver magia em tudo isso.

Não quero criticar as causas religiosas do natal, nem as pessoas que realmente aproveitam o feriado, não como o dia do ano em que devem dar presentes pra todos e fazer uma refeição com a comida que duraria semanas, mas como apenas mais um dia para ser feliz e querer o bem para o próximo, venho criticar a falsa imagem que dá à maioria das pessoas, fazendo-as acreditar que não existe nada de ruim no mundo e, se tiver, poderemos consertar isso com bugigangas de 1,99. Fecha os olhos de todos fingindo que os abre.

O problema maior, é que a mentalidade de que consumo = felicidade, passa para as gerações posteriores, de pai para filho, e o resultado disso é o que vemos hoje: pessoas que se cansam de produtos de um ano atrás porque está “velho” e “ultrapassado”, e se endividam pra satisfazer suas necessidades vazias de consumo, e que ensinam para suas crianças que isso é o normal. Se considerarmos isso, não é difícil entender o porquê das crises mundiais do mundo moderno.

O feriado do natal não é o único que nos mostra esse lado consumista exagerado do ser humano atual, muitos outros, normalmente inventados recentemente, também são baseados nisso, como o Dia das Mães, Pais, Crianças, Namorados, e outros. Essas datas voltadas para o comércio existem em todos os países, o que mostra que isso não é uma exclusividade deste país. Isso é a globalização, minha gente. Uma verdadeira revolução consumista, que luta por produtos mais novos nas prateleiras, e mais rápido, para saciar sua sede. Pra que lutar contra a fome, ou o analfabetismo, quando podemos lutar pela compra de produtos fúteis e desnecessários?

O que isso quer dizer é que, hoje em dia, datas como o natal são muito voltadas para o consumo, e ainda assim, esses objetivos são mascarados por uma imagem de paz, felicidade e amor, que acaba caindo sobre os produtos. Essa mentalidade acaba sendo um problema já que o resultado são pessoas endividadas, causa inicial das crises mundiais. Como consertar isso? Conscientização e diminuição das datas comerciais. Porém as pessoas não querem isso, então continuaremos a ter todos esses problemas financeiros até que mais gente acorde.