Linha do tempo

Volto para casa

Cada passo, um dia

Não posso parar

Olho ao redor

Fotos e vídeos,

Tentativas frustradas de continuar a viver

Eternamente

Eu vejo apenas o passado

Assim como todos antes de mim

Não há alegria, só saudade

Não há nada

Tudo foi

Ou será

Nunca é

Os segundos demoram anos

E as décadas voam

O esquecimento consome tudo

Uma besta voraz no fundo do abismo profundo

Não, não temos ninguém

Gritamos desesperados por atenção

De alguém que também grita

Uma bela sinfonia

Ninguém vai te ouvir

Tarde demais para dizer adeus.

Boneca de pano

Andava por entre as ruínas do que antes fora belo. Pequenos passos, lentos. Não havia porque correr. Também não havia onde ir.

Tropeçando por entre as pedras e a areia a seus pés. Sua mãe a dissera para não se sujar. Mas o vestido leve e branco há muito tornara-se cinza. Também estava sozinha. Apenas ela e a boneca de pano, sua única recordação do antes.

Encontrou um pequeno lugar no meio dos destroços de um prédio. Dormiu. A boneca sempre agarrada a ela. Não era bonita, porém carregava a memória de sua geração. Ambas o faziam. Mesmo no intenso escuro que agora se propagava, aquela luz futura ainda existia.

O sol não nasceu. De novo. Sem vento. Tudo parado. Passou pelos mesmo túneis do dia anterior. Sujou-se um pouco mais. A boneca não. Sempre impecável. Chegou ao poço. Cheio de lama ao redor.

Trouxe o balde consigo. Jogou-o de volta para dentro. Pouca água. Suficiente. Girou a manivela enferrujada. O vento soprou, pela primeira vez. A boneca abriu os braços. Voava para dentro do poço. Logo em seguida, a menina. Sempre juntas. Agarradas uma a outra. No poço úmido e escuro, a luz se apagou.