Capitães da Areia

Semana passada, terminei de ler Capitães da Areia, um romance de Jorge Amado que muitos conhecem por estar presente em lista de livros para vestibular, ou na leitura obrigatória para a escola. Esse clássico da literatura brasileira me impressionou, pois, diferentemente de alguns outros clássicos, não é uma leitura tão difícil e cansativa, apesar de tratar de temas sociais e filosóficos complexos como a vida de crianças abandonadas, pobreza e crenças.

O livro fala sobre um grupo de crianças abandonadas ou órfãs da Bahia, os Capitães da Areia, que vivem em um trapiche velho e abandonado. Eles vivem sob leis próprias, e roubam para sobrevivência. O conceito de liberdade é abordado como o bem maior, e questões como greves e banditismo (representado pela figura de lampião), seriam apenas formas de buscar a liberdade que os pobres merecem, mas que lhes foi roubada pelos ricos. Conversas dos meninos com pessoas diversas do livro, doqueiros, uma mãe de santo, um padre, entre outros, revelam que eles veem os ricos como culpados do sofrimento de todos os que são ou foram subjugados por eles, inclusive os próprios Capitães da Areia.

A organização dos capítulos é bem interessante, pois, em boa parte do livro, em cada capítulo há uma história, um conto, dos meninos abandonados ou de outros relacionados com eles. Isso faz com que não seja cansativo, pois não precisamos ficar horas lendo só para não perder o clima que ele lhe traz, podemos só ler um capítulo por vez e parar sem nos importar com a dificuldade de retomar o ambiente que havia antes.

Foi o primeiro clássico brasileiro que li inteiro, e recomendo a todos, especialmente como porta de entrada para outros clássicos ou livros do mesmo autor. É um ótimo livro, com uma história envolvente e crítica, e, com certeza, um dos melhores que já li.

Na escuridão do dia

Olhou para o céu e viu a lua, pálida e fria. Poucas estrelas a acompanhavam, e estava tudo muito escuro naquela noite. Perguntou-se quando veria o sol de novo. Sabia que, há muito tempo atrás, o sol vinha sempre depois da lua, e os dois se intercalavam. Mas agora, não havia mais sol. Já tinha mais de 5 anos desde que o sol se fora. Pelo menos era o que pensava, pois não havia como medir com precisão.

A princípio, ele começou a vir cada vez mais tarde, demorando várias horas para aparecer. As pessoas, que tinham coisas melhores a fazer do que prestar atenção ao sol, não se importavam muito, pensavam que era uma coisa normal ou culpa de um erro de alguém, que se resolveria logo. Continuaram com suas vidas, até que um dia, o sol não apareceu. Muitos pensaram ser um eclipse longo demais, ou um fenômeno comum. Mas esse “fenômeno comum” passou a ser cada vez mais frequente, e as coisas começaram a parar. Nada mais funcionava direito, não havia sol. Em pouco tempo, ele desapareceu de vez, e, com ele, a sociedade tão bem organizada sobre seus computadores, celulares, e tecnologia de ponta. Tudo voltara ao início, e ninguém sabia como tudo começava.

Continuava a olhar para o céu, horas e horas por dia, esperando que um raio de luz surgisse no meio de toda a escuridão. Muitos de seus amigos, da época antiga, haviam enlouquecido, com medo de enfrentar aquilo que sempre esteve na sua frente. Todos viviam no escuro, mesmo antes do sol sumir, mas nunca perceberam isso. E perceber isso os deixava loucos, poucos ainda resistiam, ainda tinham um resquício de luz, mas que se apagaria logo. Esperava atenciosamente, todos os dias, surgir uma luz forte o bastante para iluminá-la e a outros, sabia que nesse dia, o sol voltaria a brilhar.

Sociedade surda

Após as festas de fim de ano, em que a ”música” fica no volume máximo, pessoas gritam pra falar com quem está a seu lado, e começa a dor de cabeça de passar horas e horas ouvindo tudo aquilo, tudo o que queremos é silencio. O problema vem, quando no dia seguinte você tem que ir trabalhar ou ir até tal lugar, e pega o carro ou ônibus, ou mesmo quem fica em casa, e todo aquele barulho continua, agora como motores, buzinas, música alta de vizinhos, crianças gritando na rua, e sua cabeça cheia fica a ponto de estourar.

Todos esses sons altos podem prejudicar muito a saúde das pessoas, causando desde estresse até perda de audição, segundo estudos na área. Ainda assim, muitos continuam a produzir barulhos sem se importar com as consequências para si mesmo, ou para os outros, já que isso não é como se alguém estivesse prejudicando apenas a si mesmo, mas atrapalhando e podendo causar danos às pessoas que são expostas involuntariamente.

Se concentrar enquanto alguém está falando próximo a você, é para muitos uma tarefa extremamente difícil, mas, acredito que falo por todos, que fazer isso com barulhos de televisão, motores, equipamentos eletrodomésticos, músicas, etc, é impossível. O rendimento de trabalhadores e estudantes, por exemplo, cai quando estão em um ambiente com alto nível de ruídos.

Porém esta geração começa a se acostumar e a não se importar mais com todos os barulhos que nos rodeiam. Segundo a pesquisa do Dr. Alain Muzet, do Centro de Estudos Bioclimáticos do CNRS (França), as crianças resistem mais a ruídos do que adultos ou idosos. Com base nisso, é possível estabelecer uma relação com os altos sons que se multiplicaram nos últimos anos. Elas já nasceram envoltas em barulhos.

Podemos ver, então, que os sons altos nos acompanham diariamente e podem causar problemas de estresse, audição, concentração, entre outros, e mesmo assim pessoas continuam a produzi-los. Acostumaram-se a eles, e suas crianças são o produto de uma sociedade barulhenta, aguentando mais, porém sujeita aos mesmos efeitos nocivos. Alguns buscam a solução em fones de ouvido, onde, mesmo que sejam sujeitos a esses efeitos, podem ao menos escolher o que querem ouvir. Para nos livrarmos disso, teríamos que refazer toda a organização urbana e rever hábitos sociais, então, infelizmente, continuaremos surdos por muito mais tempo.

De novo

Promessas de ser

Promessas de saber

Promessas de amar

Promessas de fazer

Promessas de deixar

Promessas de ir

Promessas de paz

Promessas de nada

Promessas vazias

Promessas concretas

Promessas cumpridas

Promessas prometidas

Promessas esquecidas

Promessas do novo

Sim, promessas de novo.