Boneca de pano

Andava por entre as ruínas do que antes fora belo. Pequenos passos, lentos. Não havia porque correr. Também não havia onde ir.

Tropeçando por entre as pedras e a areia a seus pés. Sua mãe a dissera para não se sujar. Mas o vestido leve e branco há muito tornara-se cinza. Também estava sozinha. Apenas ela e a boneca de pano, sua única recordação do antes.

Encontrou um pequeno lugar no meio dos destroços de um prédio. Dormiu. A boneca sempre agarrada a ela. Não era bonita, porém carregava a memória de sua geração. Ambas o faziam. Mesmo no intenso escuro que agora se propagava, aquela luz futura ainda existia.

O sol não nasceu. De novo. Sem vento. Tudo parado. Passou pelos mesmo túneis do dia anterior. Sujou-se um pouco mais. A boneca não. Sempre impecável. Chegou ao poço. Cheio de lama ao redor.

Trouxe o balde consigo. Jogou-o de volta para dentro. Pouca água. Suficiente. Girou a manivela enferrujada. O vento soprou, pela primeira vez. A boneca abriu os braços. Voava para dentro do poço. Logo em seguida, a menina. Sempre juntas. Agarradas uma a outra. No poço úmido e escuro, a luz se apagou.

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