Teatralidade

Quem nunca fingiu ser outra pessoa? Ou quis imitar um forma de agir, seja por diversão ou para se sair melhor em um momento? O ser humano é teatral por natureza, desde o primeiro choro forçado para conseguir o que queria, ainda bebê. Atuar é necessário para conseguir viver bem, e o improviso é a base da vida.

Nossa vida se resume a uma composição de cenários com atores que se conhecem na hora e trocam a todo instante de lugar com a plateia. As peças vão se alternando e passamos a conhecer vários gêneros e situações estranhas que não conseguiríamos encarar sem teatralidade. Um ator que nunca muda não consegue acompanhar as mudanças bruscas de tema que continuam a acontecer. Para continuar, ele precisa atuar. Parafraseando Darwin, ou você se adapta, ou morre.

Mesmo que nos digam para sempre sermos nós mesmos e nunca mudarmos, milhares de vezes, esses conselhos continuam a ser horríveis. Não que você precise “perder a si mesmo”, mas tem horas em que a atuação não pode ser deixada de lado, assim como quando você não diz à sua chefe que ela está gorda (por mais que esteja) para continuar tendo emprego.

A arte de mentir e, principalmente, de não ser descoberto, também depende infinitamente de atuação. Uma palavra usada de forma errada, ou uma expressão, podem fazer tudo desandar. Todos amamos segredos alheios, então é melhor ser bom nisso.

E então, após entrarmos nesse palco, passando por várias peças improvisadas e figurinos mal desenhados, as luzes vão se acabando e os personagens vão sumindo. Seu teatro acabou. O que nos resta a fazer é torcer pelo final feliz e por aplausos da plateia.

Pare, olhe, escute

Estava andando, há alguns dias atrás, pensando em coisas muito importantes, como no meu almoço ou o que faria quando chegasse em casa, com muita pressa, pra variar, quando precisei passar por uma linha de trem. Como sempre acontece quando você quer muito chegar a algum lugar logo, uma coisa vai fazer atrasar, no meu caso, era um trem vindo.

Olhei para o relógio, tentei estimar quanto tempo perderia ali olhando o tamanho do trem, já impaciente. No meio desse tédio, olhei a placa que dizia “Pare, olhe, escute”. Já tinha passado milhares de vezes por aquele lugar, mas nunca realmente tinha prestado atenção naquela placa.

Então vi como estava: impaciente, com uma mochila jogada nas costas e vários livros na mão, entediada por ficar 30 segundos no mesmo lugar, ignorando tudo ao meu redor. Resolvi seguir a placa. “Pare, olhe, escute”

Parei minha correria, meu desespero com o tempo (e com a falta dele). Parei meus pensamentos importantíssimos, que não poderiam esperar, e de me preocupar com a tonelada de coisas que tinha dentro da minha mochila e nas minhas mãos. Olhei para o trem, suas cores se misturando e deixando tudo tão vermelho, marrom, laranja, com as pessoas e o asfalto ao lado dando contraste. O céu acima, com formas malucas e desengonçadas, me fazendo sorrir. Escutei os sons daquele momento, altos, bagunçados, complexos, mas tão naturais. Os passos vindo e indo, palavras de todas as formas e cores, carros, vento, chão, luz. Fiz tudo ao mesmo tempo. Era tudo uma imensa roda colorida e cheia de sons, perfeita para quem parasse e a quisesse ver.

O trem passou, pessoas atravessaram, e eu continuei ali.

Darwinismo social

Nunca ouvi tanto essa expressão quanto no último mês. Estudo em um colégio onde essa é a lei máxima, e sempre que tem um problema, a resposta para ele á “darwinismo social”. Então resolvi escrever um pouco sobre isso, porque, bom, adoro essa lei e a acho que é a mais correta para lidarmos com certas sociedades.

Primeiramente deixe-me explicar, darwinismo social seria a aplicação dos princípios de Charles Darwin, cientista responsável pelo atual modelo de evolução aceito, ou seja, ele associa a teoria de seleção natural a sociedades em geral. Por exemplo, em um meio onde seja preciso alta capacidade mental, somente os mais aptos conseguirão se manter nele. Assim, separamos os indivíduos aos ambientes onde eles melhor se relacionam.

Essa teoria é uma forma de percebermos que, em um mundo mais competitivo a cada dia, as pessoas precisam se adaptar, ou acabarão por serem “extintas”. Porém há uma falha. Em um meio natural, todos nascem com as mesmas condições teóricas para se manterem vivos, tem iguais condições de alimentação, mesmos predadores, etc, mas nas sociedades humanas, há a diferença de classes. Essa é um fator determinante. Se você nasce em uma classe mais baixa, terá menos propensão a atingir altos cargos por meio de sua “evolução” pois o ambiente já tem poucas oportunidades. Em uma mais alta, terá maior chances de alcançar um alto patamar.

Claro, existem pessoas que viveram em ambientes desestimulantes e conseguiram chegar a posições de grande renome, mas são poucas. Normalmente os que chegam são aqueles que estudaram toda a vida em boas escolas particulares ou tiveram o melhor treinamento em um clube ou até mesmo tendo professores particulares. Em condições públicas, as pessoas acabam por desistir ou se convencer de que não há como alcançar o mesmo que um garoto que nasceu com dinheiro.

Ainda assim, há casos o darwinismo social é uma política interessante, onde os indivíduos envolvidos tem as mesmas chances de se adaptar ao ambiente, ficando a cargo deles decidirem se sobreviverão ou não. É nessas horas em que vemos o verdadeiro potencial das pessoas com as quais convivemos.

Desse modo, Charles Darwin nos deu uma poderosa arma para vermos o quanto nosso povo é adaptável, basta darmos condições iguais, um ambiente desfavorável, e veremos o potencial evolutivo de cada se humano.

Realidade? Imagine

Por que nos apegamos tanto ao imaginário?

Fiz essa pergunta a mim mesma após começar a assistir um anime chamado “Chuunibyou Demo Koi Ga Shitai”. Nele uma garotinha que tem síndrome de 8º série (chuunibyou), ou seja, acredita que seu mundo imaginário é real, conhece e se torna amiga de um menino que já sofreu dessa síndrome e odeia qualquer lembrança que isso lhe traga. A história se desenrola, e em quase todo episódio ele tenta fazê-la acreditar que nada do que imagina ser verdade realmente é verdade, até que em um deles ela finalmente aceita isso. É aí que seu mundo desmorona.

Isso me fez pensar em todas as vezes nas quais eu e alguns amigos, brincamos de ser personagens de livros ou filmes de que gostamos. No quanto uma realidade falsa pode ser reconfortante ou talvez apenas mais divertida e animadora de se viver.  No mundo “real”, nos dizem pra sermos fortes, então qual o problema em se imaginar como o herói de uma série? Em achar que consegue lutar contra qualquer um e fazer coisas extraordinárias? As pessoas buscam nesses personagens um exemplo, e ele as faz continuar acreditando que, mesmo que tudo pareça uma merda, elas devem continuar tentando.

No último episódio do anime, o menino percebe que estava errado, e que o mundo imaginário de sua amiga era na verdade, a realidade dela. E tudo que ela fingia ser, era o que ela era. Ele vê que todos nós criamos um mundo só nosso, e é esse mundo que nos faz ser como somos. Todos sofremos de chuunibyou, e sempre sofreremos. O imaginário é real.

Só mais um minutinho…

Semana passada, tive que ir ao banco. Sim, aquele terrível lugar onde você pega uma senha, e espera. E espera. E espera. Aí quando você é o próximo, entra um velhinho na sua frente e fica por mais um tempão. Então chega a sua vez, você faz o que tinha que fazer em 2 minutos, e pega outra senha porque não pode fazer tal serviço ali. Isso se a máquina de senhas não estiver quebrada, pois se sim, significa mais espera, mais fila, mais raiva.

Estava esperando, como sempre, e me veio à cabeça o porquê de bancos nos incomodarem tanto com sua lerdeza: somos acostumados a usar aparelhos rápidos, a andar em carros rápidos, a fazer tudo com a maior rapidez possível. A cada dia inventam máquinas que procuram otimizar o tempo de trabalho, como computadores mais rápidos, internet mais rápida, e acaba por ser normal não ter que esperar.

Isso é uma das consequências naturais do capitalismo, que quer sempre mais em menos tempo, para aumentar os lucros. “Tempo é dinheiro”, costumamos dizer. Corremos para sobrar um tempo para nós, e muitas vezes odiamos esse tempo porque temos que esperar. Ou seja, nossa pressa pra acabar logo algo, faz com que as coisas as quais queríamos e duram mais de 5 minutos, fiquem chatas e enfadonhas. Perdemos a alegria de um momento assim como perdemos tempo. Acho que talvez, devêssemos parar e aproveitar um pouco, sem relógios. Sem tic-tacs na cabeça.