Sonho eterno

Deitada no colchão ela chorou. Não tinha nada pelo que chorar, e ainda assim chorou. Abraçou o travesseiro, molhado de suas lágrimas salgadas, e não o largou. Tinha sido seu amigo sempre, o único que nunca a tinha abandonado. Pessoas julgavam-na estranha demais para ser confiável, mas ela não entendia o porquê. Estava sempre sorrindo, ajudava os outros, se dava bem com todo mundo, coisas que poucos conseguiam fazer. Ainda assim, não tinha um amigo sequer com quem pudesse falar sobre tudo, e o mais próximo disso ela afastara, por medo de decepcioná-lo. Sim, ela sabia que não fazia sentido, mas fez mesmo assim.

Suas tardes eram desperdiçadas com coisas inúteis, mas ninguém percebia. Só ela. Continuava a fazê-las pois diziam que era necessário. Tinha dúvidas. Esperava avidamente o momento quando deixaria esse lugar, voltaria para casa. Não conseguia falar isso para ninguém, sabia que a achariam maluca, diriam que não havia “casa” para voltar, que aquele era o lugar dela. Mas ela tinha certeza que tudo era idiotice. Todas as regras de comportamento, de beleza, de tudo, eram apenas um sonho ruim. E como em todo sonho, brincar com isso começava a ficar chato, e você deseja acordar. Desejava acordar, fazia muito tempo, mas por mais que tentasse, não conseguia. O travesseiro era seu amigo, seu protetor e seu inimigo. Despejava suas lágrimas sobre ele como uma forma de redenção. Nunca mais acordaria. Estava presa nesse sonho eterno.

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