Retrato da Existência

Sempre vi tudo por trás de uma lente. Cada momento, cada gesto, poderia não acabar, virar arte. Imaginava várias histórias diferentes ao tentar decifrar uma foto qualquer, acreditando que apenas uma imagem seria capaz de resumir uma vida.

Ansiava por encontrar esse momento perfeito em que minha vida se tornaria uma foto. Buscava em parques, na escola, em casa, mas nada parecia certo. Por mais que eu reunisse todas as coisas que me faziam ser “eu”, na hora em que a revelava, no meio de todas aquelas tintas, e luzes, e varais da sala escura, uma parte de mim se perdia.

Eu pensava que minha foto não seria minha. Bom, que não estaria nela, fotografado. Se eu sempre observei, não deveria ficar marcado sendo observado. As pessoas me viam, mas eu não, e minha imagem deveria ter a minha visão.

Naquele dia, saí da sala escura, sem, novamente, me encontrar. Talvez conseguisse achar algo na biblioteca, lembro-me de pensar. Entre as prateleiras, com a câmera pendurada no pescoço, vi-o. Soube que era este o momento. Levantei a lente aos meus olhos enquanto ele levantava a arma. Quem era ele? Não importa, nem mesmo o conhecia. Mas aquela era minha imagem, e aquele instante resumira minha existência.

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